sábado, 11 de fevereiro de 2012

Se você contar pra alguém essa história ninguém vai acreditar.


O livro "Mídias, Máfias e Rock´N´Roll" do jornalista Julio Tognoli, tem um capítulo interessantíssimo. Uma juíza se depara com um questão inusitada, decidir se os X-Men são humanos ou não.

Leia o capítulo 4 do livro logo abaixo.

O negócio da China
Omar Kaminski, editor de internet e tecnologia da revista
Consultor Jurídico, advogado especializado em Direito da Informática e
responsável pelo site InternetLegal, informa: a juíza Judith Barzilay, da
Corte Norte-Americana de Comércio Internacional, (U.S. Court of
International Trade), em Nova Iorque, deparou com uma questão
jurídica inusitada. Teve que decidir se os X-Men, os heróis mutantes das
revistas em quadrinhos da Marvel, são humanos ou não.

“Trata-se de uma batalha tributária que já dura seis anos, entre a
Marvel Enterprises Inc. e a alfândega norte-americana (U.S. Customs
Service), segundo apurou Neil King Jr., repórter do Wall Street Journal”,
diz Omar. A decisão, de 32 páginas, deixou os fãs mais ferrenhos da
Marvel atônitos.
“Os famosos X-Men, heróis fictícios que lutam contra o racismo e
a intolerância para proteger um mundo que os teme e odeia, não são
humanos”, decretou a juíza. Tampouco os vilões que brigam com o
Homem Aranha e o Quarteto Fantástico, como o Duende Verde ou o
Mestre dos Bonecos. “São todos criaturas não-humanas”, concluiu a
juíza Barzilay, embora tenha descrito os X-Men como mutantes que
se utilizam “de seus poderes extraordinários e não naturais, para o bem
ou para o mal”.
A Toy Biz, subsidiária da Marvel, especializada na fabricação de
bonecos (ou action figures, como os fãs de barba no rosto preferem
chamar), pressionou a juíza para que declarasse que seus heróis são
“inumanos”. Por quê? Fala Kaminsky: “Assim, a empresa poderia obter
uma tarifação mais branda em bonecos importados da China na
metade dos anos 90. Naquela época, as taxas eram maiores para
bonecas (dolls) do que brinquedos (toys) em geral. De acordo com o
código tributário dos EUA, figuras humanas são bonecas enquanto
figuras representando animais ou ‘criaturas’, como monstros e robôs são
considerados brinquedos”.
Venhamos e convenhamos: as teses de Karl Marx e Gyorgy
Lukacs, o bruxo magiar do marxismo ocidental, estão enterradas. Pelo
menos quando falamos nos conceitos de que os dois tanto gostavam:
reificação e coisificação. A lembrar: pessoas, de tanto trabalhar, viram
coisas. E os objetos, valorizados pelo mercado (o fetiche da
mercadoria, de Marx) ganham o estatuto de pessoas, devidamente
erotizados e “cordializados”.
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Com o barateamento dos preços das quinquilharias, sobretudo
por parte dos Tigres Asiáticos em geral, e da China em particular,
teríamos perdido o tesão de posuir o objeto – enfim, de nos sentirmos
mais “gente” sempre que consumimos, isto é, sempre. O tesão teria
passado do ato da posse do objeto para o ato da compra: portanto um
prazer muito mais volátil.
É daí que os marqueteiros tiraram a idéia de que agora, com o
novo barato, com o novo bag –a quinquilharia chinesa muito mais
barata que a americana – os ambientes em que se dão as compras
devem ser erotizados. E não mais os objetos. Porque as pessoas
comprariam muito mais porcarias, a preços baixos, então o prazer teria
se deslocado para o sacrossantíssimo ato de adquirir algo.
Ninguém viu alguém trocar uma BMW por vinte Fuscas para
ter mais tesão, dirão. Mas que o negócio da China está por aí, está.
Há vinte anos, ouvia-se, quase todo mundo queria “ter” uma livraria.
Mas agora já tem amigo dizendo que gostaria de “morar” numa
livraria.

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